domingo, 26 de abril de 2015

Um tempo duro e maravilhoso, quando ainda se ouvia música no país

A música de protesto de Geraldo Vandré como símbolo da resistência
A necessidade de fazer uma música arte nacional, popular que chegue até as bases defendido pelo CPC modificou inteiramente a música brasileira e marca o início da canção engajada, da qual Geraldo Vandré é a expressão máxima








Atenção: é arte nos momentos  que antecede a instalação da ditadura militar no Brasil. Os que ainda não estavam aqui e hoje pedem a volta do regime não sabem o que estão falando. Deveriam estudar historia e compreender que, a democracia pode ser imperfeita, mas é ela que permite mudanças e protestos. E musica de boa qualidade. neste tempo se fazia musica no Brasil.





O compositor Geraldo Vandré nasceu em João Pessoa, na Paraíba em 12 de setembro de 1935. Sua primeira experiência na música foi num programa de calouros na Rádio Tabajara da capital paraibana quando tinha apenas 14 anos e alguns shows organizados para as missões no colégio em Nazaré da Mata, onde cursava o ginásio em internato.



 Em 1951 vai para o Rio de Janeiro e se apresenta no programa de calouros de César de Alencar, no qual foi desclassificado. Conhece Ed Lincoln, que tocava com Luís Eça na boate do Hotel Plaza. Vandré tentava cantar nos intervalos das apresentações dos dois.

Em 1955, participa de outro concurso musical, dessa vez promovido pela TV-Rio. Neste concurso defendeu a canção "Menina" de Carlos Lyra e usou o pseudômino de Carlos Dias. Depois disso, grava um disco no qual faz imitações de Orlando Silva e Francisco Alves, tradicionais sambistas, usa o disco para mostrar o seu trabalho.

O que lhe abriu a oportunidade de se apresentar no programa da Rádio Roquete Pinto foi o encontro com o folclorista e compositor Valdemar Henrique. Foi nessa apresentação que usou pela primeira vez o nome Vandré, resultado da abreviação do nome de seu pai, José Vandregisilo.


Nara Leão, Sílvio Caldas e Carlos Lyra no programa Renner Brasil, TV Excelsior, São Paulo, maio de 1963

  Cursa a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, onde se aproxima do movimento estudantil e participa do Centro Popular de Cultura da UNE. Ali, volta seu interesse para a composição e conhece Carlos Lyra, seu primeiro parceiro.

Vandré apresenta-se no bar João Sebastião, em São Paulo e inicia trabalhos com Luís Roberto, Vera Brasil e Baden Poell, em 1962. Gravou com Ana Lúcia a canção "Samba em Prelúdio" de Baden Powell e Vinícius de Moraes e compôs com Carlos Lyra o samba "Aruanda".


Os discos

O primeiro LP de Geraldo Vandré sai em dezembro de 1964 com o nome "Geraldo Vandré". Entre as músicas, além da gravação de "Samba em Prelúdio" de Powell e Vinícius, no disco e são as músicas "Fica mal com Deus" dele mesmo e "Menino das Laranjas" de Theo de Barros.
Em 1965, participa do I Festival da Música Popular Brasileira da TV Excelsior de São Paulo, defendendo "Sonho de Carnaval" de Chico Buarque. No mesmo ano lança seu segundo disco, com o nome de "Hora de Lutar", com 12 músicas, entre elas a própria "Sonho de um Carnaval", "Hora de Lutar" composta por ele, "Aruanda", dele com Carlos Lyra e "Samba de mudar" dele com Baden Powell.

Já no ano de 1966 lançou o terceiro LP, "Cinco anos de Canção", que continha duas de sua parceria com Powell, "Pequeno soneto que virou canção", "Canção nordestina" e "Rosa e Flor". Há também "Réquiem para Matraga" feita para trilha sonora do filme de Roberto Santos "A hora e a Vez de Augusto Matraga"; sua primeira parceria com Carlos Lyra "Quem quiser encontrar o amor" e "Porta estandarte" feita com Fernando Lona, música que venceu o Festival Nacional de Música Popular da TV Excelsior.

Após a vitória, parte em turnê pelo Nordeste com um conjunto que contava com Hermeto Pascoal, Theo de Barros, Heraldo do Monte e Airto Moreira. O grupo viria a se chamar Quarteto Novo.


Em 1966 a música vencedora foi a bela canção "Disparada", composta com Theo de Barros e interpretada por Jair Rodrigues, pelo Trio Novo e pelo Trio Maraia. "Disparada" empatou no festival com a música "A Banda" de Chico Buarque de Holanda

 Ainda em 1966 Vandré vence o II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record de São Paulo. A música vencedora foi a bela canção "Disparada", composta com Theo de Barros e interpretada por Jair Rodrigues, pelo Trio Novo e pelo Trio Maraia. "Disparada" empatou no festival com a música "A Banda" de Chico Buarque de Holanda.

Seu disco mais político vem no ano de 1968, "Canto Geral" com dez músicas, algumas delas desclassificadas em festivais, como "De serra, de terra e de mar" composta em parceria com Theo de Barros e Hermeto Pascoal. Há os sucessos "Arueira" e "João e Maria", um frevo em parceria com Hilton Accioli.

No ano de ainda de 1968, nas eliminatórias para o III Festival Internacional de Cultura, em São Paulo, causou impacto com a música "Pra não dizer que não falei de flores", popularmente conhecida como "Caminhando". A música foi defendida no festival junto com o Quarteto Livre, integrado por Naná (tumbadora), Franklin (flauta), Nelson Ângelo (violão) e Geraldo Azevedo (violão e viola). "Caminhando" ficou em segundo lugar no festival e tornou-se um hino da resistência contra a ditadura militar.

A segunda colocação da música no festival entrou para a história da MPB. Quando o júri divulgou o resultado, dando o primeiro lugar para a canção "Sabiá" de Chico Buarque e Tom Jobim, o publicou, formado principalmente por estudantes, disparou suas vaias: "É marmelada! É marmelada!".

1968 foi um ano em que o movimento de massas se radicalizava e voltava a se organizar. O movimento estudantil em particular reagia com cada vez mais força à ditadura militar e os conflitos entre o governo e os estudantes passaram a ser constantes.

A tendência revolucionária daqueles tempos criou o terreno para que os presentes ali rejeitassem a decisão do júri, o que importava e o que era necessário naquele momento era a música de protesto de Geraldo Vandré. Logo a música foi proibida pela censura.


CONTINUA...