segunda-feira, 25 de julho de 2016

Cultura neles!



Com ação da PF, manifestantes deixam Ministério da Cultura no Rio
  • 25/07/2016 09h26
  • 25/07/2016 15h22
  • Rio de Janeiro
Nielmar de Oliveira - Repórter da Agência Brasil



 Polícia Federal cumpre reintegração de posse na sede do Ministério da Cultura no RioTomaz Silva/Agência Brasil

Policiais federais cumpriram hoje (25) mandado de reintegração de posse do Palácio Gustavo Capanema, solicitado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e concedido pela Justiça Federal. A retirada dos manifestantes (servidores do Ministério da Cultura e artistas), que estavam há mais de dois meses ocupando o edifício, no centro do Rio de Janeiro, começou por volta das 6h.

Segundo os manifestantes, eles ainda estavam dormindo quando os policiais chegaram. Depois da reintegração de posse, cerca de 50 pessoas que ocupavam o prédio se mantiveram - em protesto contra a desocupação - no entorno do edifício, que funciona como sede regional dos ministérios da Educação e da Cultura. Os manifestantes protestam contra o governo interino de Michel Temer, que consideram ilegítimo. 

A decisão da reintegração foi determinada pelo juiz Paulo André Espírito Santo, da 24ª Vara Federal do Rio de Janeiro.

A liberação do Palácio Capanema ocorre depois de 70 dias de ocupação. Inicialmente tendo como justificativa a extinção do Ministério da Cultura - e com o apoio de movimentos estudantis, coletivos sociais, parlamentares e artistas, como Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e Seu Jorge, que chegaram a participar de show - o movimento também se posicionou contra o impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff.

Mesmo após o anúncio do governo federal de recriação do Ministério da Cultura, o prédio continuou ocupado. No local, eram realizadas diversas formas de manifestações artísticas: palestras, cursos e apresentação artísticas das mais variadas.

“A desocupação foi ilegal, antidemocrática e fere a Constituição. O pilotis do Gustavo Capanema é um espaço público”, disse o advogado Rodrigo Mondego, que representa os manifestantes do chamado Ocupa Minc.

Saiba Mais
“Estávamos eu e uma senhora de 60 anos, militante há 40 anos, na minha barraca instalada na sala Portinari quando cerca de 15 policiais mascarados e portando metralhadoras [na verdade lança-granadas] chegaram e começaram a nos retirar com truculência. Eles usaram de força para nos tirar lá de cima com agressividade, praticamente nos arrastando. Me pegaram pelos braços e pelas pernas, desci as escadas rolando. Nos trataram como terroristas”, disse a produtora cultural Adriana Tíuba, uma das manifestantes.

Já o advogado Rodrigo Mondego disse que a saída foi pacífica.  "A manifestação ocorreu de maneira pacifica. No início, o pessoal estranhou, 6h acordar com policiais mascarados entrando no local em que você está dormindo, realmente o pessoal ficou com medo e com receio, inicialmente. Mas tudo vai caminhando de maneira tranquila e pacífica até o momento, não houve truculência ou qualquer tipo de violência por parte da Polícia Federal”, afirmou.

No entanto, Mondego criticou o fato de não ter sido comunicado da decisão judicial. “Não fomos comunicado da decisão da Justiça que foi dada na última sexta-feira [21]. Agora, simplesmente a polícia chega aqui com oficias de Justiça e expulsão dos manifestantes de uma área pública da qual eles não poderiam ser retirados”, acrescentando que muitos locais do prédio estão abandonados.

Funcionário do ministério, Eduardo Matta, contestou que o prédio esteja abandonado. “Trabalho no prédio e dizer que aquele espaço do mezanino ali nunca teve nada é não conhecer os fatos. Embora eu não seja daquela área artística, como funcionário eu sei bem que ali sempre acontecem eventos, exposições. Este é um prédio tombado, está em obra e a ocupação está atrapalhando o andamento dele”.

Ministério da Cultura
O Ministério da Cultura informou, em nota em seu site na internet, que buscou, desde o final do mês de maio, a construção do diálogo e da conciliação com os movimentos de ocupação artística da área, uma vez que “as manifestações, desde que respeitados os contornos do Estado democrático de direito, são expressões de cidadania e, nesse sentido, merecem diálogo franco e aberto”.

Ressaltou que, nas últimas semanas, recebeu "relatos de depredação do patrimônio público, ameaça aos servidores públicos, uso de drogas, presença de indivíduos armados, além da circulação de menores”.

Segundo a nota, “o risco de danos ao patrimônio público em prédios históricos é eminente e, por diversas vezes, funcionários públicos já foram impedidos de prestar serviços de atendimento e de circular livremente em seus locais de trabalho. No caso específico do Palácio Gustavo Capanema, há a necessidade de desobstruir o mezanino e o pilotis, além do esvaziamento completo do edifício, para que as obras de reforma orçadas em R$ 20 milhões tenham a devida continuidade”.

Conforme o ministério, o pedido de reintegração de posse "tornou-se imperiosa para que o Ministério da Cultura pudesse desempenhar as suas atividades institucionais com regularidade e de modo a evitar qualquer dano ao patrimônio e ao Erário”.

(*) Texto alterado às 15h22 para acréscimo de informações

Rio de Janeiro - Polícia Federal executa reintegração de posse no Palácio Capanema, sede do Ministério da Cultura no Rio (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Edição: Kleber Sampaio

domingo, 17 de julho de 2016

Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 107 anos!



Theatro Municipal do Rio comemora 107 anos no domingo com programação gratuita
  • 16/07/2016 09h48
  • Rio de Janeiro
Paulo Virgílio – Repórter da Agência Brasil



 Theatro Municipal do Rio de Janeiro Divulgação/Riotur


Evento que já é uma tradição no calendário cultural da cidade do Rio de Janeiro, o aniversário do Theatro Municipal é sempre um dia em que a casa de espetáculos abre suas portas ao público. Este ano, a Fundação Teatro Municipal, vinculada à Secretaria Estadual de Cultura, optou por concentrar a programação artística de comemoração neste domingo (17) e não na data de inauguração, que foi na quinta-feira, 14 de julho.

No dia do aniversário, centenas de pessoas fizeram visitas guiadas gratuitas, que permitem ao público conhecer todas as dependências da casa, inaugurada em 1909. Já neste domingo, o público poderá ir novamente ao Theatro Municipal para festejar os 107 anos com apresentações dos seus três corpos estáveis: ballet, coro e orquestra sinfônica; além de alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa.

“Dos corpos estáveis ao pessoal técnico e administrativo todos se mobilizam para oferecer esse dia de portas abertas e mostrar o trabalho dos nossos artistas e funcionários. Esta é uma forma simpática de aproximar a população de seu teatro. Também é uma forma de mostrar em um mesmo dia todos os talentos que trabalham nesta Casa”, disse o maestro Tobias Volkmann, titular da Orquestra Sinfônica do Municipal.

Neste domingo, Volkmann será o regente do Concerto em Homenagem a Carlos Gomes, que abrirá às 11h a programação gratuita. A apresentação celebra os 180 anos de nascimento do compositor brasileiro (1836-1896) e no repertório estão trechos das óperas Fosca, Il Guarany, Maria Tudor, Lo Schiavo, Condor e Colombo.

Às 14h, será a vez dos alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa subirem ao palco para apresentar cinco coreografias assinadas por nomes como Dalal Achcar, Vassili Sulich, Eric Frederic, Silvana Andrade e Consuelo Rios. Sob a direção de Maria Luisa Noronha, os jovens bailarinos abrirão a apresentação com o balé Fantasia Brasileira, criado com base na conhecida composição clássica Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, do pianista e maestro norte-americano Louis Moreau Gottschalk (1829-1869) e inspirada na melodia original do hino de autoria de Francisco Manoel da Silva (1795-1865).

Encerrando a programação, o Ballet do Theatro Municipal apresentará, às 17h, o segundo e o terceiro atos de O Lago dos Cisnes, com coreografia de Yelena Pankova para a música de Piotr Ilitch Tchaikovsky. O mais famoso e popular dos balés românticos, o Lago dos Cisnes terá nessa apresentação como solistas os bailarinos Mel Oliveira, interpretando o duplo personagem Odette e Odile, Murilo Gabriel no papel do Príncipe Siegfried, Rodrigo Negri como o Bobo da Corte e Edifranc Alves como o bruxo Von Rothbart. A direção artística é das primeiras bailarinas Ana Botafogo e Cecília Kerche.

O Theatro Municipal fica na Praça Floriano, na Cinelândia, centro do Rio.

Edição: Denise Griesinger

sábado, 2 de julho de 2016

Clarice, Clarice Lispector: que misterios tem Clarice?



Americano que biografou Clarice recebe Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural
  • 01/07/2016 19h10
  • Paraty (RJ)
Vinícius Lisboa - enviado especial da Agência Brasil






 O escritor americano Benjamin Moser recebeu na Flip o Prêmio Itamaraty de Diplomacia CulturalTomaz Silva/Agência Brasil
O escritor americano Benjamin Moser, autor de Clarice, recebeu hoje (1º) o Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural pela divulgação da obra de Clarice Lispector. A autora foi biografada por Moser, que voltou à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) para lançar mais um livro sobre o Brasil, Autoimperialismo (Editora Crítica), que ele define como uma maneira de tentar enxergar um país de muitos lados.

"Estou totalmente em casa", disse o autor ao receber a premiação do diretor do Departamento Cultural do Itamaraty, George Torquato Firmeza, que lembrou que Clarice também era diplomata. "Se eu não tivesse escolhido você, eu teria que me esconder [dos colegas do Itamaraty]", brincou Firmeza, que recordou outros vencedores do prêmio, como o fotógrafo Sebastião Salgado e a diretora do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Marisa Mendonça.

Depois da premiação, Moser respondeu a perguntas de jornalistas e disse que seu novo livro é uma tentativa de ver um país que tem mudado muito nos últimos anos."Tentei fazer algo que colocasse em contexto uma coisa que estamos vivendo agora, mas sem partidarismo", disse.

Novo modelo
Moser acredita que o Brasil pode ser o país que vai formular um novo modelo de vida e desenvolvimento que não se baseia no consumismo e no enriquecimento. "Que venha uma nova ideia intelectual, sobretudo, de como queremos viver. Uma ideia muito básica. Queremos estar em uma cidade feia ou bonita, por exemplo? Queremos estar no trânsito o dia inteiro ou queremos alternativas?", disse. "Sei lá se vai ser aqui que alguém invente uma alternativa política e social, por quê não?"

Para essa mudança, Moser defende que pessoas bem intencionadas não se intimidem e enfrentem a carreira política. "Gente decente tem que dar a cara". Ele diz que não via como alternativa para os problemas do país o afastamento da presidenta Dilma Rousseff no processo de impeachment e disse que a impressão dele e dos estrangeiros que conhece era de que o país estava trocando um governo ruim por outro.

Saiba Mais
"Ninguém está a favor porque a gente não vê alternativa. Não é porque somos petistas alucinados que não nos damos conta da situação, mas porque a situação é que estamos no mesmo modelo de desenvolvimento", disse. "A grande oportunidade que se perdeu era fazer uma ideia brasileira do que é se desenvolver, que não seja com carro e montar um espigão. Que seja uma maneira de repensar como vivemos".

O autor disse que hoje se considera otimista em relação ao país, mas que antes, quando a economia tinha resultados melhores, era pessimista. "As forças do Brasil que a gente viu não eram realmente intelectuais, sociais e morais, eram dinheiro. E eram por causa dos preços das coisas que o Brasil vendia para a China", disse o autor, que considera que a grande imprensa brasileira desempenhou um papel parecido com o de tablóides britânicos ou com o canal de TV conservador americano Fox News durante a crise política.

 O escritor americano Benjamin Moser disse que hoje se considera otimista em relação ao paísTomaz Silva/Agência Brasil

"A maneira de falar sobre o que estava acontecendo aqui foi uma coisa como a gente vê nos Estados Unidos com a Fox News, uma coisa de direita que fica esquentando corações", diz. "Eu acho que já seria a hora de desenvolver outros modelos de imprensa. Porque o país está precisando".

Homofobia e racismo
Homossexual assumido, o escritor diz que acompanha a situação da homofobia e transfobia no Brasil e disse que a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis, Transgêneros e Intersexo) enfrenta muito preconceito no país, apesar de ele considerar as leis avançadas.

"Dói demais pensar que essas pessoas estão sendo mortas aqui. Gostaria de fazer mais", lamentou. "É uma questão que é muito urgente, porque hoje a gente está falando sobre isso, sobre como vai ficar daqui a dez anos e em algum lugar do Brasil alguém foi assassinado por ser gay hoje. A gente tem que ver com mais urgência".

Moser também falou sobre o racismo no país e disse que, quando teve seu primeiro contato com o Brasil, percebeu uma grande recusa de se falar sobre o tema, que, segundo ele, era considerado invenção de americanos que não entendiam bem o Brasil. "Falar isso era um papo de gringo mesmo. Hoje, vejo matérias diariamente em algum lugar".

Edição: Fábio Massalli